quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

OLIVEIRA DE PANELAS BIOGRAFIA



O menestrel do repente


Aos oito anos, Oliveira de Panelas já era poeta cantador, aos 14 se profissionalizou e a partir daí cantou para presidentes, Papa João Paulo II, além do cantor Roberto Carlos.
A pessoa é para o que nasce. Uns vêm ao mundo para ser médico, advogado, vaqueiro, astronauta, agricultor, outros são cientistas, contadores, engenheiros. Pois Oliveira Francisco de Melo tinha tudo para ser mais um desses nordestinos pobres que vivem na zona rural e clamam aos céus por chuvas. Mas ele se transforma em Oliveira de Panelas e aos 14 anos decide que será violeiro, trovador, cantador, poeta e repentista, amante das coisas e pessoas do Nordeste brasileiro.
Oliveira nunca quis ser outra coisa. Como se estivesse escrito na linha do seu destino, ainda menino começou a cantar e improvisar, influenciado por cantadores de Pernambuco e da Paraíba, que ele ouvia nas rádios dos dois estados. E foi também nesse tempo de menino que ele adivinhou que jamais na vida seria outra coisa, que não fosse cantador.
Assim, em 1958, aos 12 anos, Oliveira canta pela primeira vez em público com os repentistas Josué Rufino e João Vicente, em Panelas, onde nasceu. Oliveira tem a voz do tamanho de um trovão de janeiro no Sertão e isso logo chamou a atenção dos amantes da cantoria. Sem contar que sua capacidade de improvisar – maior característica de um cantador – aflorou quando ele ainda era um moleque. Dois anos depois de ter cantado em público pela primeira vez, Oliveira forma dupla com o cantador Manoel Hermínio e depois passa oito anos cantando ao lado do poeta Manoel Voador da Paraíba. Nesse tempo, ele já morava em Garanhuns. Mas o destino o persegue e, como todo nordestino pobre, ele é tangido para São Paulo.
Lá, Oliveira comeu o pão que o diabo amassou. Nessa época, a cantoria não era valorizada e cantador ganhava muito pouco. Não dava para sustentar a família. Então, Oliveira trabalhava de pedreiro nas grandes construções de São Paulo. Era mestre-de-obra. Trabalhador da construção civil como tantos dos seus conterrâneos. Ao mesmo tempo em que trabalhava na construção civil, Oliveira freqüentava os ambientes de cantadores e poetas, em São Paulo.
Em 1975, Oliveira planejou deixar São Paulo e veio para João Pessoa. Tentou ganhar a vida na Capital da Paraíba, mas as coisas caminharam na contra-mão dos seus planos. Passou aqui apenas um mês, retornando para São Paulo, onde continuou a vida de pedreiro e cantador.
Mas isso duraria pouco, porque em 1976 Otacílio Batista – famoso cantador da trilogia dos Batista do Pajeú das Flores – aportou em São Paulo para cantar com Diniz Viturino, cantador de Monteiro, na Paraíba, então um morador de Caruaru, em Pernambuco. Oliveira viu Otacílio cantar pela primeira vez quando tinha apenas 12 anos. Foi em 1958, em Panelas, onde Oliveira nasceu e viveu a infância. Amante da cantoria, é evidente que Oliveira conhecia Otacílio. Mas Otacílio não sabia quem era Oliveira. Mas iria descobrir um grande cantador logo depois. E foi o que aconteceu. Um amigo de Otacílio morava em São Paulo e lhe contou a boa nova: “Otacílio, você precisa conhecer um cantador que tem aqui chamado Oliveira”. Minutos depois, Oliveira era apresentado a Otacílio. O velho cantador não acreditava no que via e ouvia. E assim, à queima-roupa, convidou Oliveira para “duplar” com ele e voltar a morar em João Pessoa, onde Otacílio morava e mantinha a sua família como cantador.
O primeiro disco a gente nunca esquece
Em 1971 Oliveira gravou o seu primeiro disco intitulado “Coletânea de Repentista”, na série Brasil Caboclo, cantando em vinte e quatro gêneros do repente com vários cantadores. Cantando de improviso, Oliveira é imbatível. Já participou de 298 congressos de cantoria do repente, sendo classificado em primeiro lugar em 185 deles.
Já cantou quatro vezes para Roberto Carlos, em São Paulo, mas não só isso. Já cantou para o Papa João Paulo II, para o então presidente de Portugal, Mário Soares, e para o comandante Fidel Castro, de Cuba. A convite da Rede Globo, foi jurado do Festival MPB-Shell, trabalhando com importantes músicos brasileiros.
Já publicou vários livros como “O comandante do Planeta Médio”, em 1997; “Poesia Liberdade”, em 1979; “Poemas Iluminados”, em 1983; “ Poemas Alternativos”, em 1984, este em parceria com Zé de Sousa; “Na Cadência do Martelo”, em 1993; “Dois Poetas do Povo e da Viola”, 1996, parceria com Otacílio Batista, o poeta gozador. Gravou onze LPs e 14 CDs.
Compôs e cantou para três filmes nacionais (Deus deu a Terra e o Diabo cercou), (Os dez últimos dias de Lampião), (Chatô o Rei do Brasil). Foi presidente da Associação de Poetas Repentistas do Brasil e seu trabalho é reconhecido internacionalmente pela imprensa de Portugal, Cuba e França, onde foi convidado para cantar em 1996, 1997 e 1998. Em julho de 1997 foi campeão do 1º Campeonato Brasileiro de Poetas Repentistas, concorrendo com 108 artistas cantadores, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Como profissional do repente, sempre demonstrou, de forma didática, os seus principais gêneros, a origem e a atuação da cantoria no Nordeste. Divulga, desde o início de sua carreira, a valorização do cordel como símbolo de resistência e arte dos costumes de nossa gente, somando-se a total divulgação das canções e das toadas de todo reino do repente nordestino.
Atuou, por oito anos, em emissoras de rádio de Garanhuns, tendo participado em dezenas de outras rádios em todo o estado de Pernambuco e fora dele, a exemplo de Caruaru, Belo Jardim, Pesqueira, etc. Viajou pelo Brasil inteiro sempre divulgando a riqueza, a história, a cultura e os costumes do povo do Nordeste brasileiro.
Oliveira ministra palestras e simpósios sobre o cordel e a história da cantoria e do repente, faz cantoria-espetáculo e apresentações didáticas para eventos, escolas e universidades, é mestre cerimonial animador. Nos últimos anos vem trabalhando com Ariano Suassuna, seu admirador.
Presidiu por 8 anos a Associação de Poetas Repentistas do Brasil, sediada em João Pessoa. Promoveu o 11º Encontro Nacional de Poetas Repentistas do Brasil. Abriu espaço para os novos artistas do gênero, sendo considerado um dos maiores representantes da geração de poetas cantadores. Além de tudo isso, Oliveira de Panelas é membro do Conselho de Cultura do Estado e é o primeiro repentista do Brasil a participar de um conselho desse tipo.
Publicou os seguintes livros:
" O Comandante do Planeta Médio – 77 (Tipografia Alvorada);" Poesia Liberdade – 79 (Editora Jagurá);" Poemas iluminados – 83 (Editora A União);" Poemas Alternativos – 84 (Unigraf);" Na Cadência do Martelo – 93 (Gráfica Boa Impressão);" Dois Poetas do Povo e da Viola – 96 (Funesc);" O Poeta Gozador – 98 (Editora A União);" Vida de José Lins do Rego – 2001 (Funesc);" Cordel – 2001 (Editora Edra);" Um Tributo à Nossa Senhora – A Tecelã das Flores – 2002 (Editora Idéia);" Os Maristas na Bahia – 2002 (Editora Bargaço);" Cantando a História – 2002 (Editora Bargaço);" Os Irmão Maristas em Taguatinga – 2003 (Editora Edições Bagaço);" O Legado de Uma Maria – 2003 (Gráfica Santa Marta);" ...E Deus Me Fez Cantador – 2005 (Editora Manufatura)
Vitrine do CaririZé Euflávio - A União

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