domingo, 6 de junho de 2010

ZÉ VIOLA E MOCINHA DE PASSIRA PRA QUE É BOM DE RIMA

DUELO DE VIOLA (1/3/2008)

Pra quem é bom de rima

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Mocinha de Passira e Zé Viola encantaram o público com as rimas e bom humor que vinham da viola
TUNO VIEIRA

01/03/2008.

De rima em rima, Zé Viola e Mocinha de Passira se enfrentaram na última quinta-feira

Vou pedir forças pra Deus / (...) / existe um vulcão aqui pertinho de mim / ou dou fim no vulcão /ou o vulcão dá fim em mim”. Zé Viola começou a noite com a corda toda - parecia que era ele quem vinha fumegando. Mocinha de Passira, na cadeira do lado, instrumento no colo, veio com um balde de água fria: disse que aquela, para ela, era uma noite “de muita viola e satisfação / de muito repente e viola”. Para cada um, para cada sextilha, palmas da platéia. Havia os pais, que levaram os filhos, os grupos de amigos que combinaram o programa - todos preparados para o embate que começaria um pouco depois do combinado, às 20 horas, entre os dois cantadores. Os dois se “enfrentaram ”nesta última quinta feira no Teatro Sesc Emiliano Queiroz.

Os cantadores foram convidados a fazer parte da nona edição do Projeto Quinta Com Verso e Viola, promovido por amantes da cantoria e apoiados pelo Sesc. Depois de uma pausa nas atividades entre os meses de dezembro de 2007 e janeiro deste ano, a última quinta feira do mês volta a ser da prática do improviso, do inesperado, ao som da toada da viola. Público é o que não falta: o teatro foi sendo aos poucos ocupado, a ponto de sobrar apenas uma cadeira aqui outra acolá.

E os dois foram apresentados por Pedro Sampaio, um dos organizadores. O galego começou esse negócio de cantoria no começo dos anos 80. Ele é do interior do Piauí, Bocaina, e hoje vive em Teresina. Por lá, inclusive, já enfrentou Mocinha de Passira por duas vezes já. Ela é pernambucana e ficou famosa por começar a cantar, com firmeza e habilidade, aos 13 anos. Pela proximidade com o Dia Internacional da Mulher, lembrado por Sampaio, Mocinha recebeu aplausos calorosos.

O povo pede...

Depois do enfrentamento inicial, o apresentador Orlando Queiroz lançou o primeiro desafio, proposto pela platéia. Ele disse que tentou se esquivar, mas cedeu, tamanho era o desejo do público em ouvir Mocinha enaltecendo as mulheres e Zé Viola cantando as façanhas masculinas. Ela enumerava os nomes importantes além das qualidades femininas. Ele se detinha em apenas numerar os homens - o que fez as palmas ficarem mais fracas em sua vez. O tema voltaria mais adiante, ainda sob protestos de Orlando e deleite da platéia. O mote era “duvido o homem fazer como a mulher faz” e “duvido a mulher fazer do jeito que o homem faz”.

Houve um momento de descanso, e nesse intervalo o cantador baiano Pedro Sampaio foi convidado a subir ao palco. Depois foi rima por cima de rima. Sempre com uma camaradagem no ar, seja nos estilos em que dividiam um mesmo tema, como o “voa sabiá”, em que os versos terminavam em “voa sabiá do galho da laranjeira/que a pedra da baladeira/vem zoando pelo ar”. Ou quando a gaiatice tomava conta da cantoria - como no estilo martelo, em que os dois haviam de se enfrentar em estrofes de dez versos e o último verso de cada um servia de início do outro. A platéia foi ao delírio com esse estilo. “Apanha, Zé Viola!”, comentavam uns, notando a altivez de Mocinha nesse momento. Mas houve quem discordasse: “Zé Viola é conhecido como cantador... Ele se garante mais. Mas o fato dela ser mulher não atrapalhou em nada!”, comenta Chico Viana, filho de cantadores. Melo Falcão, que acompanhava o amigo concordou e lembrou do embate: “o que gostei mais foi o dom da improvisação e o tom competitivo”, conclui.

PERSONAGEM

"Eu achei tudo maravilhoso. Gosto bastante de ouvir as cantorias, sempre que posso venho. É cada coisa que eles fazem! Deixo tudo lá em casa pra vir ver. Mas o marido vem comigo!" (Herbênia Braga, Dona de casa)

Júlia Lopes
Repórter

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